Imagine-se diante de um majestoso palco italiano, seus sentidos tentando absorver a harmonia da orquestra. Mas há um inconveniente: a pequena distância entre sua poltrona e a fileira da frente gera grande desconforto. Você se movimenta discretamente, procurando alívio, mas o assento responde rangendo em voz alta. Depois de algum tempo, a música já não importa mais. Tudo o que você quer é o fim do tormento.

Uma simples poltrona pode pôr a perder todo o trabalho arquitetônico, cenográfico e artístico de uma sala de espetáculos. A especificação correta dos assentos é aspecto crítico para garantir a boa operação desses ambientes. Ela exige a compatibilização de uma série de quesitos. Resistência, necessidade de manutenção, ocupação de espaço físico, interferência acústica, segurança e design, além do conforto estão entre eles.

Necessidades dos grandes teatros

Poltronas mal-especificadas podem interferir negativamente em uma série de características das salas, a começar pela acústica. O consultor José Augusto Nepomuceno, diretor do escritório Acústica & Sônica, explica que um local destinado exclusivamente a concertos sinfônicos requer cadeiras com qualidades distintas das de espaços destinados a outros usos. As poltronas de salas de espetáculo, por exemplo, precisam receber acabamentos que contribuam para garantir às salas a mesma condição acústica independente da lotação.

“As especificações devem detalhar todos os aspectos do equipamento, inclusive o silêncio de operação”, diz Nepomuceno. Jamais devem ser aceitas poltronas que rangem quando as pessoas se levantam ou sentam. Também deve-se evitar aquelas necessitam de manutenção excessiva ou que possuam dados acústicos sem sustentação.

Escolha do estofado

O estofamento é decisivo para o comportamento acústico das poltronas. Ele também precisa auxiliar o controle de propagação de chamas em caso de incêndio e, ainda, ser termicamente agradável. “A cor, geralmente escura, é uma escolha do arquiteto, mas o tecido deve atender laudos técnicos que certifiquem resistência à abrasão e fixação da cor pretendida”, revela o engenheiro Ismail Solé, que participou de mais de 50 projetos de teatros em sua carreira.

Conforto e Normas Técnicas, Carência de normatização é desafio no segmento de poltronas de auditório

Assim como a interferência acústica, conforto e ergonomia são características indispensáveis aos assentos de auditórios. Por isso, as poltronas devem garantir superfícies estáveis, robustas, capazes de acomodar o corpo humano e aliviar a pressão na região das coxas. Também precisam contar com encostos altos e apoios de braço anatômicos.

O desafio é garantir tais condições quando não há uma norma técnica brasileira que defina claramente o que é uma poltrona de auditório confortável. Para complicar, o que é ergonômico para uma pessoa de 1,60 m e 60 quilos provavelmente não será para uma pessoa de 1,90 m e 120 quilos.

Espaçamento

Diretamente relacionado à garantia de conforto, o espaçamento entre as fileiras é um foco constante de falhas de projeto. Ele pode, inclusive, colocar em risco a segurança da sala. Uma solução recorrente é o uso de assentos com encostos rebatíveis, que proporcionam maior fluidez ao tráfego de pessoas em caso de emergência. Outra recomendação é distanciar em um metro a face anterior de um determinado encosto até a face anterior do encosto imediatamente à frente.

A visibilidade que o espectador tem do palco ou da tela é outro item a ser considerado na especificação de assentos. Para as salas de cinema, a norma diz que o ângulo formado pelo eixo perpendicular ao plano do encosto da poltrona e uma reta perpendicular ao centro da largura da tela seja igual ou inferior a 15° em cada poltrona. Para atender tal condição, já há produtos com regulação de inclinação do encosto variável em função da proximidade da tela.

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